Expulsos pelas queimadas, animais silvestres tentam sobreviver na metrópole

Expulsos pelas queimadas, animais silvestres tentam sobreviver na metrópole

Abrir a porta de casa e encontrar um cachorro-do-mato, macaco-prego ou cobra remete a um cenário distante para quem mora na cidade. Mas, com o aumento das queimadas, é algo que está se tornando cada vez mais comum nos grandes centros. Só em Belo Horizonte, o número de animais silvestres resgatados pelos Bombeiros cresceu 57% de janeiro até agosto deste ano frente ao mesmo período de 2016.

Pelo menos 93 bichos foram descobertos nas ruas da capital em apenas oito meses, enquanto no mesmo período do ano passado tinham sido 59. Em todo Estado, já são 2.025 ocorrências desse tipo em 2017 –o equivalente a oito capturas de animais na área urbana por dia.

Um dos casos mais recentes ocorreu na madrugada da última quarta-feira. Moradores de um prédio se assustaram com uma cobra de mais de um metro de comprimento que invadiu o edifício no bairro Gutierrez, região Oeste de BH.

Segundo a tenente Andréa Coutinho, do Corpo de Bombeiros, o clima seco tem intensificado a fuga desses bichos silvestres. “A baixa umidade tem aumentado as queimadas. Além disso, sem chuva, começa a faltar água e alimentos. Pela sobrevivência, os animais seguem para as cidades”.

Destruição

Até agosto, as ocorrências de incêndio em unidades de conservação mineiras aumentaram 25%, comparado com o mesmo período de 2016, passando de 158 para 198. Neste ano, foram queimados mais de 3,8 mil hectares nas áreas preservadas, apontam dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Apenas no Parque Estadual Serra do Intendente (IEF), em Conceição do Mato Dentro, na região Central, foram 164,81 hectares destruídos.

O desmatamento para a implantação de áreas urbanas também contribui para a fuga dos animais do habitat natural.

A tenente Andréa observa ainda que cresceu o número de pessoas que fazem turismo em regiões de mata. O rastro de alimentos deixados por parte dos visitantes serve de atrativo para os bichos, que seguem a trilha até chegar aos centros urbanos.

O biólogo Francisco Mourão, explica que, além desses fatores, a arborização das cidades estimula a migração de alguns bichos, como as aves. As áreas mais vulneráveis são as áreas próximas aos parques naturais. “Quando ocorrem queimadas, os bairros mais perto das matas são os que mais se tornam refúgio de cobras, lagartos e alguns tipos de mamíferos que fogem do fogo”.

Criadouros ilegais põem vida de moradores em risco; captura deve ser feita por especialistas

Nem todos os animais silvestres encontrados nas cidades fugiram das matas em chamas. Em alguns casos, os bichos conseguiram escapar de cativeiros irregulares. “Por meio de denúncias que recebemos diariamente, estamos descobrindo cada vez mais animais silvestres sendo domesticados. Além de cometer um crime, a pessoa que faz isso coloca a vida de outros em risco quando ocorre a fuga do animal”, alerta o tenente Rômulo Morati, da Companhia de Polícia Militar Independente de Meio Ambiente. Quem mantém animal silvestre em cativeiro pode ser condenado a até um ano de prisão.

Quando encontrados nas áreas urbanas, os bichos são encaminhados para os Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), ligados ao Ibama, existentes em BH, Montes Claros (Norte) e Juiz de Fora (Zona da Mata).

Lá, eles recebem os cuidados necessários para o retorno à natureza. Em torno de 80% conseguem voltar para as matas e outros 15% vão para criadores científicos, comerciais ou conservacionistas. Nas estatísticas, 5% morrem devido ferimentos sofridos nas ruas. Apenas no Cetas da capital, segundo o Ibama, já chegaram 5 mil animais neste ano. Desses, 90% são aves.

Cuidados

Ao encontrar um bicho silvestre na rua, o ideal é nunca tentar capturá-lo sozinho. A tenente do Corpo de Bombeiros, Andréa Coutinho, orienta isolar a espécie em algum lugar seguro e ligar para o socorro. “Se estiver em casa, feche a porta onde o animal estiver e aguarde a ajuda”, recomenda.

O auxílio pode vir do Corpo de Bombeiros (193) ou da Polícia Militar de Meio Ambiente (190). Eles encaminham o bicho para o local adequado. “Cada animal tem uma forma correta de captura. Se não tiver a técnica, a pessoa pode ser ferida. Sem contar que o animal pode ser peçonhento”, diz a militar. Quando acuados, os bichos tendem a se defender atacando.

Fonte: Hoje em Dia

Foto: Flávio Tavares

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