Com apresentações de experiências de revitalização no Rio Willamette, nos Estados Unidos, e na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, foi aberto oficialmente, na manhã de hoje (28), o III Encontro Internacional de Revitalização de Rios e I Encontro das Bacias Hidrográficas de Minas Gerais, que acontece até quinta-feira (30) no Minascentro, em Belo Horizonte.
A abertura contou com a presença e discursos do presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Marcus Vinícius Polignano; do Secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Germano Vieira; do coordenador-geral do Fórum Nacional de Comitês de Bacia Hidrográfica, Hideraldo Buch; da diretora-geral do IGAM (Instituto Mineiro de Gestão das Águas), Marília Carvalho; do Diretor de Operação Metropolitana da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), Rômulo Perilli; e do diretor da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Tarcísio Afonso Nunes.
Representando o governador Fernando Pimentel, Germano Vieira destacou como o Estado tem se pautado na temática hídrica, apesar da crise financeira que vivencia, e assumiu compromissos importantes, em especial com os Comitês de Bacia Hidrográfica. “Temos que ter mais compromisso com o repasse de recursos, a evolução da governança hídrica depende disso. Em relação ao FHIDRO [Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado], já conseguimos uma vitória: o encaminhamento do Projeto de Lei que prorroga até 2023 a validade do fundo. Além disso, determinamos ao IGAM a análise de regras que podem, desde já, compor ato regulamentar adiantando possíveis desburocratizações na liberação dos recursos e na respectiva prestação de contas”, disse.
No lado externo do auditório do Minascentro, onde ocorriam as palestras, uma exposição lembrava os dois anos da tragédia do rompimento da barragem da mineradora Samarco. Haviam também estandes específicos do Programa ‘Revitaliza Rio das Velhas’, do Projeto Manuelzão e do IGAM, este último com dados sobre a qualidade das águas do Rio Doce.
Revitalização de rio nos EUA
O primeiro a palestrar foi o renomado professor Robert Mason Hughes, da Amnis Opes Institute, dos Estados Unidos. Sob a ótica da integridade biótica, ele contou das experiências bem sucedidas em torno da revitalização do Rio Willamette, no Estado de Oregon.
Reconhecendo similaridades entre o corpo d’água norte-americano e o Rio das Velhas, ele apresentou uma linha do tempo do Willamette, enaltecendo o fato que, em 1911, ele já era considerado um “esgoto a céu aberto”. Falou também do histórico de legislações protetivas que foram criadas a partir de manifestações dos cidadãos, destacando o papel dos Conselhos de Bacia, similares aos nossos Comitês, nesse processo.
“Quando falamos da revitalização do Willamette, não estamos falando só do rio em si, como também das planícies de inundação, dos riachos, dos rios tributários, das lagoas marginais; enfim, de toda a bacia. Temos que lembrar também que as planícies de inundação não são apenas um monte de terras perto de rios, elas também são o rio”, falou.
Território, saúde, gestão e revitalização
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), Marcus Vinícius Polignano, foi o segundo a discursar, destacando a atual crise hídrica que vivenciamos e o papel das bacias hidrográficas como verdadeiras unidades de gestão do território. “Nós não podemos tratar que o nosso problema é só de crise de escassez de água, só falta de chuva. O nosso modelo de ocupação transformou a história dos nossos rios. Não adianta pensarmos que teremos rios de boa qualidade com o modelo de ocupação que fazemos hoje”, frisou.
Polignano também fez críticas aos tipos de tratamento de esgoto atualmente praticados no Brasil, basicamente pautados na eliminação de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio). “Nós não podemos continuar aceitando tratamento de esgoto só no nível secundário. Só a retirada de matéria orgânica não retira nitrogênio e fósforo, o que gera eutrofização dos rios [processo pelo qual um corpo de água adquire níveis altos de nutrientes, provocando o posterior acúmulo de matéria orgânica em decomposição] e a consequente mortandade de peixes”.
Em meio a esse contexto, o presidente do Comitê apresentou o Programa ‘Rio das Velhas’, pacto celebrado junto a outros diversos atores em prol da revitalização da bacia, e todas as suas metas. “Tudo isso só possível com participação social”, finalizou.
Ao final, Polignano prestou homenagens ao seu colega e companheiro de lutas na revitalização do Rio das Velhas, o professor Antônio Leite Raddichi, brutalmente assassinado no início do mês.
Biomonitoramento como ferramenta de avaliação
Valendo-se do peixe como indicador biológico para qualificar a água do rio, o projeto “Biomonitoramento da Ictiofauna e Monitoramento Ambiental Participativo na Bacia do Rio das Velhas” foi apresentado pelo seu coordenador, o pesquisador do NuVelhas – Projeto Manuelzão, Carlos Bernardo Mascarenhas. O projeto tem a função de avaliar e monitorar, ao longo do tempo, as mudanças ambientais a partir de impactos como o desmatamento, o lançamento de esgotos e de efluentes industriais, ou mesmo de qualquer outro tipo de interferência negativa para o rio.
Mascarenhas destacou as ações educacionais e de mobilização que foram realizadas com a participação dos Subcomitês de Bacia Hidrográfica, escolas e comunidade em geral, para o sucesso do projeto. Falou também que o Biomonitoramento da Ictiofauna compreendeu as amostragens de peixes na calha e afluentes do Rio das Velhas, analisando a distribuição, riqueza, diversidade e isótopos estáveis que indicam compostos orgânicos provenientes da poluição nos tecidos de peixes.
“Uma das coisas que pudemos observar é que, após a implantação das ETEs (Estações de Tratamento de Esgoto) Onça e Arrudas [no início da década passada], houve um aumento da área de distribuição dos peixes, levando-nos a crer que o tratamento de esgoto na Região Metropolitana Belo Horizonte (RMBH) foi de fundamental importância para isso”, disse.
Na parte da tarde de hoje, ainda terá a palestra ‘Processos Ecológicos: Rede de pesquisa em águas tropicais’, com o Prof. Dr. José Francisco Gonçalves Júnior (UNB), e ‘O Rio Chicago – canal de esgoto, canal de navegação ou patrimônio público?’, com Margaret Frisbi, da organização Friends of the Chicago River, dos Estados Unidos, e o painel ‘Rio Doce: do maior desastre ambiental aos desafios da recuperação’, que contará com Tarcísio Márcio Magalhães (UFMG), Leonardo Deptulski (CBH Rio Doce), Camilla Laranjeira Brito (MAB), Prof. Dra. Cristiana Losekann (UFES) e Regina Marcia Pimenta de Mello (IGAM). A programação do dia será encerrada com encontro do Fórum Mineiro dos Comitês de Bacia Hidrográfica (FMCBH).
O III Encontro Internacional de Revitalização de Rios e I Encontro das Bacias Hidrográficas de Minas Gerais seguem até o dia 30 de novembro com uma programação extensa.
A revitalização em debate
Com o objetivo de apresentar as melhores experiências sobre a preservação de rios no mundo, tanto no campo quanto na cidade, o III Encontro Internacional de Revitalização de Rios e I Encontro das Bacias Hidrográficas de Minas Gerais irão reunir, entre 28 e 30 de novembro, no Minascentro, pesquisadores dos Estados Unidos, Europa e América Latina.
Os encontros são uma realização do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), do Fórum Mineiro de Comitês de Bacias Hidrográficas (FMCBH), Projeto Manuelzão, Agência Peixe Vivo e Governo do Estado de Minas Gerais, por meio do IGAM (Instituto Mineiro de Gestão das Águas).
Fonte: CBH Rio das Velhas – 28-11-2017
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