Dossiê de servidores contra política ambiental de Bolsonaro será enviado à ONU

Dossiê de servidores contra política ambiental de Bolsonaro será enviado à ONU

Funcionários públicos listam ações e posicionamentos de autoridades para caracterizar ‘desmonte’ do setor

BRASÍLIA — A Associação Nacional dos Servidores de Meio Ambiente (Ascema) divulgou nesta sexta-feira um documento de 34 páginas com uma lista de denúncias sobre o “desmonte” das políticas públicas do setor durante o governo Jair Bolsonaro. A ideia dos funcionários públicos é apresentar o dossiê ao Congresso e a organizações internacionais, entre elas a ONU (Organização das Nações Unidas), para que o Executivo reveja práticas governamentais.

O documento lista ações e posicionamentos de autoridades, com a apresentação de uma linha do tempo. Em texto introdutório, os servidores afirmam que há “ataques constantes contra os órgãos e entidades socioambientais”. Ressaltam também que, desde 2019, há mais incêndios florestais e expansão do desmatamento na Amazônia.

“(Também houve, desde 2019), tentativas de incriminar e intimidar indígenas, ambientalistas e organizações não-governamentais, além de intimidação e cerceamento da ação dos servidores da área ambiental, resultando em um real e deliberado desmonte das instituições públicas de meio ambiente”, diz o texto.

Durante a apresentação do dossiê, Denis Helena Rivas, vice-presidente da associação e funcionário do ICMBio, criticou a nova estratégia do governo de priorizar o uso das Forças Armadas para proteger a Amazônia e combater o desmatamento.

— Vale destacar uma estratégia totalmente equivocada de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que significa submeter os órgãos ambientais de controle às Forças Armadas a um custo altíssimo. Um mês de Garantia da Lei e da Ordem com (a presença) militares equivale a um ano da fiscalização ambiental do Ibama em termos de orçamento — disse Rivas.

Ele diz que, além da ONU e Congresso Nacional, o documento será enviado para entidades como Human Rights Watch e Anistia Internacional, ONGs que defendem os direitos humanos.

— A gente espera que esse documento sirva de base para que essas denúncias prosperem no campo legislativo e também no Judiciário, de modo que a gente consiga frear essa sanha destruidora — acrescentou.

No documento, os servidores dizem ainda que sofrem com “assédio institucional e perseguição” e criticam a “desestruturação e enfraquecimento do Ministério do Meio Ambiente (MMA)” sob a gestão de Ricardo Salles.

“Outra denúncia importante é a tramitação de uma imensa e injustificada proporção dos processos administrativos do ICMBio em caráter restrito ou sigiloso, em muitos casos sem qualquer justificativa legal que dê amparo à medida, ferindo o princípio da transparência no serviço público”.

Funcionário do Ibama, Wallace Lopes, que também participou de transmissão ao vivo de lançamento do documento, disse que é preciso preservar a estabilidade dos servidores durante a discussão da reforma administrativa. Como exemplo, ele cita a tentativa de “perseguição” em órgãos ambientais.

— (A reforma administrativa) tende a dificultar ainda mais o nosso trabalho, porque fazer fiscalização, licenciamento ambiental, auditoria ambiental, regulação de agrotóxicos, e de vários outros produtos que afetam o meio-ambiente, sem estabilidade, é algo impensável.

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