Três anos após Mariana, projetos para evitar riscos ambientais estão parados na Câmara

Três anos após Mariana, projetos para evitar riscos ambientais estão parados na Câmara

Depois da tragédia de Mariana (MG), em 2015, deputados e senadores apresentaram projetos para reforçar as leis de proteção ambiental. Mas o fato é que nenhum deles avançou. Estão todos paralisados ou arquivados.

Na semana passada, uma barragem rompeu em Brumadinho (MG), levando uma enxurrada de lama à região. Nos últimos quatro dias, as autoridades locais já confirmaram as mortes de 65 pessoas; outras 280 estão desaparecidas. Muitos moradores da cidade deixaram as casas.

Nos últimos três anos, deputados apresentaram cinco projetos na Câmara. Todos estão parados. Eles preveem que:

  • a multa da lei de crimes ambientais tenha seu valor aumentado em até 100 vezes, de acordo com os danos causados;
  • a fiscalização possa exigir uma contratação de seguro por danos causados ao meio ambiente ou à saúde pública;
  • será obrigatório um plano de emergência a ser executado pela empresa responsável pela barragem;
  • serão feitos planos de emergência para todas as barragens; hoje, a lei prevê esse plano somente para barragens classificadas como de dano potencial alto;
  • será proibido construir barragens de rejeitos pelo método usado em Brumadinho.

O deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), autor de um desses projetos, disse que eles não andam porque as mineradoras financiam muitos deputados.

“Na Comissão de Minas e Energia vários deputados, inclusive, foram financiados por essas empresas. […] Lamentavelmente, eu repito, o lobby das grandes mineradoras, nesta Casa, infelizmente interditou que essas leis pudessem ser aprovadas e certamente, se tivessem sido aprovadas, hoje não teríamos essa tragédia vitimando a população”, afirmou.

O então deputado Leonardo Quintão (MDB-MG), relator de um código de mineração que não chegou a ser aprovado, foi um dos deputados que receberam doações de campanha do setor de mineração. Num debate há cinco anos, Quintão falou sobre as doações.

“Alguns ambientalistas já falaram: ‘Você não pode ser relator, porque você é financiado pela mineração’. De forma alguma, a legislação brasileira respeita o financiamento de campanha. Eu não tenho nenhuma vergonha de, dentro da lei brasileira, ser financiado por mineradoras”, acrescentou.

Quintão, que é cotado para assumir um cargo na Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro, recebeu pelo menos R$ 2,1 milhões de mineradoras em doações eleitorais em 2014.

Não houve retorno por parte da assessoria de Leonardo Quintão sobre o assunto.

Quase metade dos 81 integrantes da Comissão de Minas e Energia da Câmara recebeu doações de empresas com atuação no setor de mineração ou de sócios destas empresas. São 38 deputados, incluindo o presidente e dois vice-presidentes do grupo. A comissão analisa, entre outros, projetos que envolvam pesquisa e exploração de recursos minerais, além das regras para o setor.

Senado

No Senado, um projeto de 2015 que tornava mais rigorosa a Política de Segurança de Barragens e aumentava as punições foi arquivado.

O texto foi proposto pelo senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES). Outro projeto parado desde 2016, do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), quer transformar em crime hediondo a poluição ambiental que provoque mortes.

“Está claro que teve um poderoso lobby das empresas mineradoras que atuaram junto ao poder público tanto no Executivo quanto no Legislativo de Minas Gerais e do Congresso Nacional para que essas matéria avançassem”, afirmou o senador.

E a Polícia Federal está analisando documentos da Vale sobre a tragédia em Brumadinho.

O delegado Luiz Augusto Pessoa Nogueira disse que o inquérito apura se os laudos, feitos por empresas contratadas pela Vale, têm alguma irregularidade ou não.

A Vale já informou que contratou uma empresa alemã para vistoriar a barragem em setembro e o laudo apontou estabilidade.

FONTE: G1
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